Afinal,
por que é tão difícil combater o Estado Islâmico?
Reuters ,
Exame
Estado Islâmico: segundo
especialistas, o potencial de recrutamento do grupo terrorista é outro aspecto
que o fortalece ainda mais
Gabriela
Bazzo, do HuffPost
Brasil
São Paulo - Um dos grupos
terroristas mais bem articulados e financiados da história, o Estado Islâmico se mostra um desafio e tanto
para a comunidade internacional em 2016.
A célula terrorista,
que em 2014 autoproclamou um califado no território da Síria
e do Iraque, ganhou bastante destaque na imprensa
internacional em 2015, com atentados no Ocidente (entre outros, o grupo assumiu
a autoria pelos ataques contra a revista Charlie Hebdo e a série de ataques
coordenados em Paris em novembro) e com vídeos chocantes que mostram execuções
e crianças matando reféns.
"O Estado Islâmico é um
grupo difícil de se combater, não apenas por ser não-estatal. O principal desafio
das potências Ocidentais para 2016 é chegar num acordo em como o grupo precisa
ser combatido. O fato de que é necessário lutar contra o Estado Islâmico já é
consenso", explica Rodrigo Gallo, professor de Relações Internacionais na
Fespsp e na FMU.
Segundo o especialista, um dos
maiores desafios para o combate ao grupo é resolver o que será feito de Bashar Al-Assad, ditador da Síria que governa
o país desde 2000.
Enquanto EUA, França e Grã
Bretanha - países que têm sido mais atuantes no combate aos radicais -
consideram Assad um ditador, a Rússia o tem como um aliado de longa data e uma
das poucas bases amigas remanescentes no Oriente Médio.
"Como é que esses países
ocidentais conseguirão fazer um acordo de ataque ao Estado Islâmico sendo que
eles não conseguem entrar num acordo sobre a figura que assumiria o poder na
Síria?", indaga Gallo.
De acordo com relatórios de
inteligência, os ataques recentes - conduzidos especialmente pela França e
pelos EUA - já enfraqueceram o grupo, mas sua derrota a longo prazo não é algo
certo.
Especialista em segurança
internacional, o professor Bernardo Wahl afirma que o combate ao Estado
Islâmico vai continuar no centro das atenções em 2016, mas o desfecho do
conflito pode se arrastar por anos.
"É bastante difícil que se
alcance uma vitória militar decisiva contra o Estado Islâmico nos próximos
anos. O grupo tem se mostrado bastante resiliente, que mostra que mesmo sob
ataque não tem problemas em recrutar e mobilizar. Além disso, diversas vitórias
táticas contra o grupo não estão se traduzindo em uma derrota estratégica do
Estado Islâmico, e essa derrota não será vista nos próximos dois ou três
anos", detalha.
O potencial de recrutamento do
Estado Islâmico é, na opinião dos especialistas ouvidos pelo HuffPost Brasil
outro aspecto que fortalece ainda mais o grupo, e torna seu combate mais
complicado.
Há milhares de registros de
jovens europeus que fugiram de casa para se juntar aos soldados extremistas. Os
atentados recentes em Paris também foram cometidos por jovens
europeus, assim como os ataques de janeiro, que vitimaram os cartunistas da
Charlie Hebdo.
Para a professora Rita do Val,
coordenadora do curso de Relações Internacionais da Faculdade Santa Marcelina,
o recrutamento tem raízes mais profundas, que podem ser explicadas, em parte,
pelo histórico de xenofobia na Europa.
"Para entender o sistema de
captação de novos soldados é necessário entender as causas sociológicas que
fazem com que um jovem belga, do subúrbio, deixe sua família e vá para o EI.
Isso tem a ver com xenofobia, exclusão social, preconceito religioso. Essas
pessoas, que são empurradas para guetos, não se sentem parte de um grupo, e o
Estado Islâmico se apresenta como um braço acolhedor."
Além disso, o fato de não ter
apenas um quartel general, torna o Estado Islâmico ainda mais difícil de ser
combatido.
"Esse grupo, na verdade, é
constituído por células, que estão concentradas em vários lugares, não
necessariamente em um único local. Ele está presente, inclusive dentro de
países da Europa. Um bombardeio aéreo pode acabar com UM grupo, destruir o
arsenal de UM grupo. Mas, estrategicamente, esse grupo não tem um único QG. Ele
está espalhado e organizado em territórios e países distintos", explica
Rita.
Todas as questões levantadas
acima, entretanto, só são realidade devido a um robusto sistema financeiro
construído por meio de contrabando de petróleo, saques, venda de antiguidades,
negociação de reféns e outras atividades que mantém o Estado Islâmico de pé.
O presidente russo, Vladimir
Putin, chegou a afirmar que países do G20 são responsáveis por manter o grupo
pois, de certa forma (ainda que indiretamente), mantêm relações com o EI.
"O fato é que a saída não é
simples, e ela envolve múltiplos e conflitantes interesses", afirma Wahl.
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