Relatório
aponta 11 mortes em obras olímpicas desde 2013, número maior que a Copa do
Mundo
Entre os acidentes estão
atropelamento, esmagamento por caminhão, soterramento e choque elétrico.
Números são considerados preocupantes
Luísa
Cortés, do Portal PINIweb
28/Abril/2016
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Onze pessoas morreram desde 2013 em decorrência das obras para a Olimpíada no Rio de Janeiro. As informações foram divulgadas na última segunda-feira (25) pela auditora fiscal e coordenadora do grupo de Construção Civil do Tribunal Regional do Trabalho na 1ª Região (TRT/RJ), Eliane Castilho.
Entre os acidentes estão atropelamento,
esmagamento por caminhão, soterramento e choque elétrico. As mais comuns são o
que a auditora chama de "sutilezas elétricas": quadro de luz exposto,
luminária improvisada, fiação no chão e aterramento inadequado, escavações, má
utilização de máquinas pesadas e falta de proteção quanto às quedas.
"Os trabalhadores têm
equipamentos de proteção individual (EPI), mas as normas de segurança coletiva
são descumpridas. Vimos trabalhadores com cinto de segurança sem estar preso a
lugar nenhum. São coisas inadmissíveis em obras olímpicas. É revoltante",
acrescentou Castilho.
A auditora fiscal também afirma
que o curto prazo para a execução das obras impacta na segurança dos
trabalhadores. "O desafio é ter um projeto e executá-lo. Todos esses
grandes consórcios têm equipes maravilhosas de engenheiros de segurança. O
negócio é isso ser aplicado. Com cronograma ruim, eles não conseguem executar.
Às vezes, tem até o projeto, mas não conseguem pôr em prática", disse.
Robson Leite, o superintendente
regional do Ministério do Trabalho e Emprego do Rio de Janeiro, também se
pronunciou sobre o assunto. "Na Copa do Mundo, foram oito mortes no
Brasil. Então, 11 mortes só no Rio é assustador. Temos tido muito problema com
a prefeitura. Alguns eventos-teste não aconteceram em função de interdição
nossa. As interdições ocorrem porque a situação é gritante e está ferindo
normas técnicas muito efetivas, muito claras com relação à segurança do
trabalhador. Um exemplo é o velódromo, que embargamos mais de uma vez em função
dessa ameaça, do não cumprimento de normas técnicas claras de segurança do
trabalhador".
Ele ainda demonstrou preocupação
quanto à aprovação de leis no Congresso Nacional que podem agravar a situação
do trabalhador da construção civil. "Temos uma preocupação com os ventos
de Brasília com relação a alguns projetos de lei, como a flexibilização do
conceito de trabalho escravo, criação de obstáculos para que o trabalhador
tenha acesso à Justiça. Isso nos preocupa muito. Não é porque queremos
recuperar a atividade econômica que vamos pagar isso com o preço da vida de
trabalhadores. Pelo contrário, precisamos intensificar a fiscalização".
Das mortes registradas desde o
ano de 2013, uma parte aconteceu em obras de legado, como a Linha 4 do Metrô,
que gerou três mortes. Aquelas no entorno do Parque Olímpico mataram duas
pessoas, e as referentes ao Museu do Amanhã, Elevado do Joá, Transolímpica,
Nova Subida da Serra, Supervia e Museu da Imagem e do Som geraram uma cada.
Entramos em contato com a
Prefeitura do Rio de Janeiro, com a Linha 4 e com a Supervia:
Prefeitura do Rio de Janeiro:
"A Prefeitura do Rio lamenta as mortes, presta sua solidariedade às
famílias das vítimas e exige sempre das empresas responsáveis por obras
municipais o cumprimento das normas de segurança. O governo municipal ressalta,
porém, que, diferentemente do que aponta o relatório, vários projetos não têm
qualquer relação com os Jogos Olímpicos, como o Museu da Imagem do Som, a Nova
Subida da Serra e a Supervia. E mesmo as demais obras dizem respeito a projetos
de legado, ou seja, são inspiradas pelos Jogos mas não possuem vínculo direto
com o evento."
Linha 4: "Maior obra de
infraestrutura urbana em execução na América Latina, a Linha 4 do Metrô mantém
rigorosos procedimentos de segurança para garantir os cuidados necessários aos
seus atuais sete mil colaboradores. Em todos os canteiros de obra, há técnicos
de segurança do trabalho, acompanhando a execução das obras, para orientar os
funcionários e verificar as condições de trabalho."
Supervia: "Na tarde de 23 de
dezembro de 2015, agentes da SuperVia acionaram o Corpo de Bombeiros para
prestar auxílio imediato a um funcionário terceirizado da empresa APC Soluções
Metálicas que havia sofrido uma descarga elétrica enquanto atuava nas obras de
reforma da estação Vila Militar (ramal Santa Cruz). Ao chegarem ao local, os
bombeiros constataram o óbito do funcionário. A ocorrência foi registrada na
33ª DP. Após o fato, a concessionária manteve contato permanente com a empresa
prestadora de serviços, e as causas do acidente foram investigadas pelos órgãos
competentes. A SuperVia reforça que, enquanto trabalhava supervisionado pela
concessionária, o funcionário cumpriu com todas as normas de segurança do
trabalho, e que o acidente ocorreu após o expediente programado para aquele
dia. O responsável pela empresa terceirizada prestou assistência à família do
funcionário e arcou com as despesas necessárias."
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