Cemitério
de escravos recém-chegados revela crueldade do Brasil colonial
Publicado
há 1 mês - em 11 de março de 2016 » Atualizado às 12:12
Categoria » Esquecer? Jamais
Categoria » Esquecer? Jamais
A saga
dos Pretos Novos explora o cenário escravagista brasileiro
Por Solon
Neto Texto: João Victor Belline Do Alma Preta
No bairro da Gamboa, Rio de
Janeiro, o casal Guimarães teve a sua rotina alterada naquele dia. Há tempos
Petrúcio e Ana Maria queriam reformar sua casa e naquele ano de 1996 eles
finalmente conseguiram. Eles não imaginavam o tamanho da descoberta que
aconteceria naquele espaço.
Entre enxadas e pás, os pedreiros
encontraram mais que o esperado ao preparar o solo para a concretagem. Algo
mais do que o chão era quebrado, apareciam ossos humanos juntos à terra
revolvida, cada vez que uma pá atingia o solo. Os Guimarães se assustaram e
acionaram a Prefeitura do Rio.
Foi um rebuliço quando as
autoridades foram conferir o que estava acontecendo ali na Rua Pedro Ernesto,
número 36. Após diversas análises de arqueólogos e historiadores já não
restavam mais dúvidas: aquele era o Cemitério dos Pretos Novos, do qual há
muito se havia perdido a localização.
O Cemitério foi criado
originalmente em 1722 e remonta ao histórico de sepultamentos de escravos no
Rio de Janeiro. Naquele momento, havia uma demanda de enterros de escravos que
não conseguia ser cumprida, tendo em vista o incremento do tráfico negreiro,
cada vez mais intenso. Para solucionar o problema, foi criado um cemitério
somente de pretos novos, alcunha utilizada para caracterizar os escravos recém
chegados.
A necrópole foi instalada no
Largo da Igreja de Santa Rita a princípio e depois tranferido em 1769 para o
Valongo, no antigo Caminho do Cemitério. Tal local era destinado ao
sepultamento de escravos africanos recém-chegados no porto do Rio de Janeiro,
do século XVIII ao século XIX. Os sepultamentos eram precariamente realizados,
amontoavam-se os corpos no centro do terreno e por lá eles permaneciam até que
fossem enterrados e, posteriormente, queimados. De acordo com o Livro de Óbitos
de Santa Rita, no Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, no período de 1824
a 1830, últimos seis anos de funcionamento do cemitério, foram sepultados 6.122
pretos novos, sendo 60% homens, 30% mulheres e 10% jovens e crianças.
O termo
ladino se refere ao escravo já adaptado ao Brasil
Depois do achado, o local foi
estabelecido como sítio arqueológico e histórico e várias pesquisas foram
realizadas para tentar encontrar mais informações sobre os escravos recém
chegados ao Brasil. Foram encontrados diversos artefatos de ferro, comprovando
a capacidade dos africanos com relação à produção de metalurgia. Além destes,
contas de vidro, artefatos de barro, argolas, colares, porcelanas e conchas
também foram encontrados.
Não só aspectos da vida material
africana foram desvelados, mas os próprios ossos dos escravos analisados a fim
de que se pudesse verificar quem eram os sepultados ali. Foi realizado o salvamento
de 28 ossadas, a maioria de jovens do sexo masculino com idade estimada entre
18 e 25 anos, assim como adolescentes entre 12 e 18 anos e crianças entre 3 e
10 anos. A análise do universo de 5.563 fragmentos indicou que muitos ossos
apresentavam marcas de queimação, ou seja, foram queimados após a descarnação.
O que confirma o relato.
No local que fora descoberto o
Cemitério dos Pretos Novos foi criado no dia 13 de maio de 2005 o Instituto de
Pesquisa e Memória Pretos Novos. O instituto tem por finalidade propor
reflexões e estimular projetos educativos e de pesquisa para a preservação da
memória interligada aos acontecimentos relacionados ao período da escravidão
legal, com seus desdobramentos nos dias atuais.
No IPN são confeccionadas
publicações impressas e em outras mídias para promover o entendimento das
circunstâncias e das questões sociais resultantes da escravidão. Razão pela
qual promove eventos diversos, tais como ciclos de palestras, cursos,
simpósios, seminários, fóruns e exposições. Ele é mantido, em grande parte,
pelo esforço do casal Guimarães auxiliado pelo trabalho de voluntários de
diversos segmentos da sociedade civil identificados com os ideais da promoção
da igualdade racial e social do Brasil.
O Rio de Janeiro é um dos mais
importantes cenários para contextualizar a maior diáspora humana conhecida. Em
âmbito nacional, o Rio foi a capital da empresa escravagista, já que seus
portos receberam cerca de metade dos escravos trazidos para a América
portuguesa. Foram cerca de 10 milhões de negros escravizados chegando às
Américas e, destes, aproximadamente 6 milhões vieram ao Brasil. Dos africanos
que vieram, 60% foram enviados para a Região Sudeste.
Com a Organização das Nações
Unidas proclamando o período de 2015 a 2024 como a Década Internacional do
Afrodescendente, a necessidade de resgate desta história é ainda mais
evidenciado. É preciso apoiar-se nos pilares “reconhecimento, justiça e
desenvolvimento”, propostos pela ONU, e reconhecer todo o trabalho realizado
pelos afrodescendentes nas sociedades e propor medidas para promover a sua
inclusão social e erradicar o racismo ou qualquer intolerância relacionada.
Leia a matéria completa em: Cemitério de escravos recém-chegados revela crueldade do Brasil colonial - Geledés http://www.geledes.org.br/cemiterio-de-escravos-recem-chegados-revela-crueldade-do-brasil-colonial/#ixzz468lzFkLj
Follow us: @geledes on Twitter | geledes on Facebook
Nenhum comentário:
Postar um comentário