Disputa
democrata nos EUA: primárias não acabaram, Bernie Sanders segue vivo na corrida
rumo à Casa Branca
Corey Robin | Jacobin | Nova York - 08/03/2016 - 09h55
Cinco
teses sobre resultados obtidos na ‘Super Terça’ apontam que preferência das
mulheres e negros com relação a Hillary Clinton pode ser mais questão
geracional e de idade do que uma barreira para o oponente
Jacobin
Após votações recentes, Hillary tem 11 Estados, contra 8 de Sanders; Ela conta
com 1.129 delegados e ele com 498
I.
Bernie Sanders ganhou em quatro
estados: Oklahoma, Minnesota, Vermont e Colorado. Hillary Clinton venceu em
sete estados: Alabama, Arkansas, Geórgia, Massachusetts, Tennessee, Texas e
Virgínia. Isso significa que, no total, Sanders tem cinco estados (esses quatro
além de New Hampshire) e Clinton tem dez (os sete mais Nevada, Iowa e Carolina
do Sul).
Mas eis aqui o ponto fundamental:
as eleições em Nevada, Iowa e Massachusetts foram ou apertadas ou
extraordinariamente apertadas. Um pouco mais de tempo aqui, um pouco mais de
organização ali, e poderiam facilmente ter virado para o lado dele. Em outras
palavras, Sanders poderia com facilidade ter sete estados agora, contra os oito
de Clinton. Ele não tem, e o "e se" se resume a uma suposição. Mas o
que isso significa, olhando para a frente, é que temos a oportunidade de
transformar uma potencialidade em realidade. Temos tempo, temos organização,
temos dinheiro: vamos usar de tudo.
A arma mais forte de Clinton é a
aura de inevitabilidade que ela e seus apoiadores e a mídia inventaram ao redor
dela. Parte disso é baseada na realidade, parte é baseada em superdelegados
(que me recuso a admitir), e parte é baseada na promoção de marketing político.
Não dê espaço aos superdelegados, não dê espaço ao marketing político.
II.
A pesquisa de boca de urna de Massachusetts, onde Clinton
ganhou por pouco, é fascinante. Aqui estão alguns destaques:
- Sanders conseguiu 41% dos eleitores não-brancos (eles não distinguem a categoria além disso). Eu vou voltar para isso depois.
- Sanders ganhou de Clinton entre os eleitores que ganham menos de US$ 50 mil e eleitores entre US$ 50 mil e US$ 100 mil. O único grupo por renda em que ela ganhou foi de eleitores que ganham mais de US$ 100 mil.
- Entre os eleitores de primeira viagem, Sanders ganhou uma parcela enorme de 71% dos votos.
- Entre os independentes, Sanders tem 65% dos votos.
- Sanders ganhou entre eleitores muito liberais e eleitores moderados.
- Clinton foi melhor entre mulheres casadas do que entre mulheres solteiras.
Além disso, relacionado com a
questão de gênero, Sanders quase empatou com Clinton em Oklahoma entre as mulheres eleitoras (48% para
Clinton, 46% para Sanders).
III.
Vi várias declarações de que
Sanders está ganhando apenas por causa dos homens brancos, dentre todos os
outros demográficos ele perde. Isso simplesmente não é verdade.
Em Vermont e em New Hampshire, ele ganhou de Clinton entre todas
as mulheres eleitoras. Em Oklahoma, como já disse, ele quase empatou com ela
entre as eleitoras. Em Nevada, ele quase empatou com Clinton entre os
eleitores latinos (embora os especialistas ainda estejam debatendo esse ponto).
Em Massachusetts, como já dito, ele tem 41% dos eleitores não-brancos.
Não temos nenhuma pesquisa de
boca de urna do Colorado e de Minnesota (pelo menos não no site da CNN,
que é o que estou usando), mas dado o tamanho de suas vitórias lá, eu ficaria
surpreso se Sanders não tivesse ganhado ou empatado com Clinton entre os
eleitores não-brancos e talvez até entre as mulheres.
IV.
A questão da raça e da demografia
na campanha é fascinante. Não há dúvida nenhuma de que Clinton lidera entre os
eleitores afro-americanos. Ela ganhou essa parte do eleitorado em cada votação
até agora.
Mas é aqui onde as coisas ficam
interessantes. Na segunda metade do ano passado, quando foi levantada entre os
apoiadores de Clinton e de Sanders a questão da disparidade de gênero, Matt
Bruenig apontou de forma muito inteligente que a
diferença nisso era tanto geracional quanto etária: mulheres mais jovens
estavam apoiando Sanders, mulheres mais velhas apoiavam Clinton. Muitas
pesquisas e resultados primários têm confirmado sua previsão.
Imagino se não estamos prestes a
ver algo semelhante — talvez tão dramático quanto — com os eleitores
não-brancos. O fator transversal aqui não é só idade — Bruenig também mostrou
que eleitores jovens e negros tendem a ir em direção a Sanders (veja o gráfico
ao fim deste texto), e,
até na Carolina do Sul, Sanders foi bem melhor entre os eleitores negros e jovens do que
entre os negros mais velhos —, mas também a região.
Pense bem. Com exceção de Nevada,
os Estados onde houve um forte apoio para Clinton entre os eleitores
não-brancos foram todos no sul. E em Nevada, os eleitores latinos quase preferiram Sanders
(embora, novamente, os resultados têm sido uma fonte de conflito).
Mas fora do sul e de Nevada,
houve eleições primárias em três estados que são virtualmente brancos (Vermont,
New Hampshire e Iowa) e três outros estados que, embora o branco seja maioria,
possuem uma população mais diversa (Colorado, Minnesota e Massachusetts). Em
Massachusetts, Sanders teve 41% do voto não-branco. Em comparação com todos os
estados do sul, isso é deslumbrante.
Assim, a divisão racial é uma
realidade e um problema para Sanders — não me entenda mal —, mas pode ser mais
complicado do que as pessoas têm afirmado.
V.
Fora do sul, Sanders venceu ou
quase venceu em todos os Estados. De agora em diante, muitos Estados são um
território muito mais amigável para ele. A menos que nossos cérebros estejam
completamente atrapalhados pelo olhar da vida política através dos midiáticos
Nate Silvers (comentarista que faz predições sobre as eleições, além de
esportes) e Vox (empresa de mídias digitais) — onde cada pesquisa é uma
predestinação, cada superdelegado um fato da natureza, onde todo mundo é um realista
maluco, em vez de cidadãos ativistas — desistir a esta altura seria a definição
plena da insanidade.
Esta é uma batalha difícil,
sempre tem sido. E daí? Caminhamos. Vorwärts. Sempre.
---
Traduzido por Jéssica Grant
Publicado originalmente em inglês pela Revista Jacobin
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