Exposição lembra os 100 anos da publicação de A Metamorfose,
de Kafka
- São
Paulo
Daniel
Mello - Repórter da Agência Brasil
Poderia
ter sido apenas uma noite maldormida, comum a qualquer pessoa, mas os sonhos
intranquilos de Gregor Samsa marcaram a história da literatura mundial. Ao
despertar, o caixeiro-viajante “encontrou-se em sua cama metamorfoseado num
inseto monstruoso. Estava deitado sobre suas costas duras como couraça e, ao
levantar um pouco a cabeça, viu seu ventre abaulado, marrom, dividido por
nervuras arqueadas”.
Sem
mais detalhes sobre a causa da transformação, foi assim que Franz Kafka decidiu
iniciar A Metamorfose, um de seus livros mais famosos, publicado
pela primeira vez há 100 anos. Esse aniversário é lembrado em exposição na Casa
das Rosas, aberta no sábado (7), na Avenida Paulista (região central da
capital).
As
situações insólitas e opressoras, como provenientes de pesadelos intermináveis,
são a marca do escritor tcheco. “Quando a gente usa o adjetivo kafkaniano geralmente
a gente se inspira ou faz referência a Metamorfose ou ao Processo.
Essas duas obras, junto com o Castelo, que ele deixou inacabado,
são consideradas grandes obras do Kafka”, explica o curador da mostra, Reinaldo
Damásio, que lembra ainda a importância dos contos e narrativas curtas na obra
kafkaniana.
Uma
imersão nesse universo criado pelo escritor é a proposta da exposição. “Cada
sala é uma espécie de instalação. A gente usa imagens, texto, ambientação, que
parece um labirinto em alguns momentos. Em outros, a ideia do próprio quarto
onde ocorre a metamorfose. A gente usa fotos, livros, bastante material
bibliográfico e locução - tem vozes que leem trechos daMetamorfose em
alemão”, detalha Damásio.
Para
os que já conhecem o trabalho do tcheco, a proposta é, segundo o curador, dar
novos elementos para repensar A Metamorfose. Para os que ainda não
tiveram a oportunidade de ler, a mostra pretende incentivar uma aproximação com
essas narrativas. “A pessoa que conhece a obra do Kafka vai encontrar alguns
elementos críticos que vão instigá-la em uma nova possibilidade de leitura.
Quem não conhece o Kafka vai ter um mergulho meio radical, que vai ser uma
experiência bastante lúdica aqui no espaço, e vai ficar instigado a conhecer
mais”, diz Damásio.
Além
de materiais relacionados especificamente aos contos e novelas, são apresentadas
referências a vida do autor, como anotações e até cartas escritas para as
noivas. A frustração com o trabalho burocrático e o relacionamento conturbado
com a família, especialmente o pai, aparecem de diversas maneiras nas obras do
escritor. “Não diretamente, nunca há uma transposição direta da vida para
obras. É sempre uma transfiguração”, diz o curador.
Edição: Fernando
Fraga
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