Forças Armadas tomam o
poder no Sudão
José Naranjo 11/04/2019
© STRINGER (EFE) Dezenas de pessoas participam de protesto nesta terça-feira exigindo a saída do presidente sudanês, Omar al-Bashir, em Cartum.
Omar Al-Bashir não
é mais presidente do Sudão. Nesta quinta-feira, ele foi detido pelo Exército, de
acordo com o vice-presidente, o general Awad Ibn Awf, que também informou sobre
a criação de um conselho nacional de transição. Ele também anunciou várias
medidas de emergência, como o fechamento do Aeroporto Internacional de Cartum.
Al-Bashir permanece no Palácio Presidencial sob forte vigilância militar,
enquanto dezenas de milhares de pessoas tomaram as ruas de Cartum, a capital,
para comemorar a queda do ditador que estava no poder havia 30 anos.
O dia começou com o anúncio, pelos
militares, de uma "declaração importante", que manteve o país em
suspenso durante toda a manhã. Os rumores sobre a destituição de Al-Bashir
começaram a circular imediatamente e dezenas de milhares de pessoas foram para
as ruas de Cartum e, em especial, os arredores da sede das Forças Armadas,
onde milhares vinham se manifestando desde o último sábado.
Os eventos se sucederam a toda
velocidade. À medida que vazavam informações de que o presidente sudanês estava
sob prisão em seu palácio presidencial, as celebrações foram ganhando
intensidade. Vários soldados deram uma batida na sede do Movimento Islâmico, um
grupo que apoia Al-Bashir, depois prenderam colaboradores do ex-presidente.
Além disso, a Agência Nacional de Inteligência e Segurança (NISS) anunciou a
libertação de "todos os presos políticos" do país, e dezenas deles
começaram a deixar as prisões esta manhã.
Apesar do chamado para que
respeitassem a propriedade pública, por parte dos organizadores dos protestos,
em Porto Sudão e Kassala, duas cidades do leste do país, grupos de cidadãos
atacaram a sede da NISS, causando danos em vários níveis.
A origem dos
protestos
As revoltas que forçaram a queda de
Omar Al-Bashir começaram em dezembro por causa do aumento do preço do pão.
Organizados pela Associação de Profissionais Sudaneses, nascida como uma
organização de trabalhadores contra o controle estatal dos sindicatos oficiais,
dezenas de milhares de sudaneses saíram às ruas das principais cidades do país
em manifestações sem precedentes que resultaram em cerca de trinta mortos em
confrontos com a polícia nos últimos quatro meses.
As motivações econômicas em um país
devastado (de cerca de 43 milhões de habitantes) que sofre com uma inflação
anual de 70% logo deram lugar a reivindicações políticas. Os manifestantes
exigiram a queda de Al-Bashir, mas ele não estava disposto a jogar a toalha.
Diante da imensidão dos protestos, o presidente declarou estado de emergência
em 22 de fevereiro e demitiu praticamente todo o seu Governo. Como a pressão
popular não diminuía, libertou milhares de pessoas. O movimento revolucionário,
ao qual os principais partidos da oposição já haviam aderido, teve algumas
semanas de trégua.
© AFP Manifestantes
sudaneses protestam nesta quinta-feira nas imediações do quartel geral do
Exército.
No entanto, a queda de Abdelaziz Bouteflika, na Argélia, depois de semanas de manifestações na
rua enviou uma nova mensagem de esperança para aqueles que exigiam a renúncia
de Al-Bashir. Coincidindo com a celebração do 34º aniversário das revoltas de
1985, que acabaram com o regime do ditador Jaafar al-Numeiri, em 6 de abril
milhares de sudaneses se concentraram em torno da sede das Forças Armadas em
Cartum. Até aquele momento, o Exército não havia intervido na repressão e as forças
de mudança estavam tentando forçá-lo a tomar partido.
Este sábado teve início o fim de
Al-Bashir. As forças de segurança, lideradas pelas unidades antimotim,
repetidamente tentaram expulsar os manifestantes, o que causou pelo menos mais
sete mortes, mas sua determinação permaneceu intacta. Alguns soldados até
tentaram mesmo defender os cidadãos das investidas da polícia, disparando para
o ar. Nesta terça-feira, as forças de segurança anunciaram que não atacariam os
manifestantes que, em uma atmosfera festiva, viram que o fim do ditador estava
próximo. Eles não estavam errados.
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