Armas de
fogo são causa de morte em 71% dos homicídios no Brasil
Pesquisador diz que, sem Estatuto do Desarmamento,
taxa cresceria 12%
Publicado
em 06/06/2018 - 16:06
Por Akemi
Nitahara – Repórter da Agência Brasil Rio de Janeiro
Entre o início dos anos 1980 e
2016, o percentual de homicídios no país cometidos com armas de fogo subiu de
40% para 71% do total. Esse é mais um recorte do Atlas da Violência 2018
divulgado ontem (5) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo
Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
De acordo
com pesquisador, Estatuto do Desarmamento deteve "corrida
armamentista" no país (Arquivo/Agência Brasil)
Os pesquisadores apontam que
ocorreu uma “verdadeira corrida armamentista” no país a partir dos anos 1980,
motivada pela estagnação econômica que levou o Estado a não conseguir suprir a
segurança para a população que se consolidava como maioria urbana, em uma
tentativa de autodefesa dos cidadãos. O processo só foi interrompido em 2003,
com o Estatuto do Desarmamento.
Segundo o pesquisador do FBSP
David Marques, um estudo do Ipea aponta que, sem o estatuto, o Brasil poderia
ter ainda mais homicídios do que os 62.517 ocorridos em 2016, o que equivale a
uma taxa de 30,3 mortes para cada 100 mil habitantes, a mais alta de história
do país e alcançada pela primeira vez no ano analisado pelo estudo.
“Tem uma estimativa de que o
Estatuto do Desarmamento, apesar de nunca ter sido implementado na sua
completude, ainda assim conseguiu ser responsável por uma espécie de freio, de
contenção do crescimento dos homicídios”, afirmou. Segundo com o pesquisador,
sem essa legislação, as taxas de homicídios seriam 12% superiores às atuais.
De acordo com Marques, o
resultado mostra a importância de se aperfeiçoar as ações de desarmamento “e
ter um salto de qualidade nessa política de retirada de armas de fogo de
circulação, para que a gente possa começar a pensar numa mudança de cenário com
relação à violência letal”.
Armas e homicídios em geral
Segundo a pesquisa, entre 1980 e
2016, 910 mil pessoas foram mortas por perfuração de armas de fogo no país,
enquanto que as mortes por outros meios se manteve com números estáveis desde o
início dos anos 1990. O levantamento aponta, ainda, que os estados onde houve
maior crescimento da violência letal são os mesmos onde cresceu a vitimização
por arma de fogo, sobretudo no Norte e no Nordeste do país.
De 2006 para 2016, a taxa de
homicídio por arma de fogo cresceu 15,4% no país, número próximo aos 14% de
crescimento na taxa de homicídio em geral. A violência armada aumentou nos
estados em que os homicídios também avançaram, como no Rio Grande do Norte
(349,1%), Acre (280,0%), Tocantins (219,1%) e Maranhão (201,7%).
O estado com a maior proporção de
homicídios por arma de fogo é Sergipe, com 85,9% dos assassinatos provocados
por perfuração à bala, seguido de Alagoas, com 84,9%, e Rio Grande do Norte,
com 84,6%. As menores proporções estão em Roraima, com 35,3%; Mato Grosso do
Sul, com 48,6%; e no Tocantins, 54,1%.
“Isso sinaliza de forma muito clara
a importância de se ter uma política consistente de retirada de armas de fogo,
especialmente as ilegais, mas também de controle das armas de fogo legais, para
que a gente possa ter menos crimes. Porque diversas pesquisas têm demonstrado
que menos armas é menos crimes, diz Marques.
Saiba mais
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Edição: Davi
Oliveira
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